A História da Rádio FM Comunitária de Ipanguaçu: Cultura, Voz Popular e o Legado de Mário Silvério da Costa
As rádios comunitárias sempre tiveram um papel fundamental na vida social, cultural e política de pequenas cidades do Brasil. Muito além de um simples meio de comunicação, elas são a voz do povo, o espaço onde comunidades inteiras encontram representatividade, informações locais e identidade cultural.
Em Ipanguaçu, município localizado no interior do Rio Grande do Norte, a Rádio FM Comunitária foi um símbolo de resistência, informação e integração social.
Este artigo conta a história dessa rádio que marcou gerações, destacando o período em que esteve sob a dedicação de Mário Silvério da Costa, representante da comunidade de Arapuá, e analisa como, após sua morte e durante a gestão municipal de Valderedo (PSDB), a emissora acabou sendo fechada, deixando uma lacuna cultural e social no município.
O Contexto das Rádios Comunitárias no Brasil
Antes de mergulharmos na história de Ipanguaçu, é importante entender o cenário nacional.
As rádios comunitárias surgiram como instrumentos de democratização da comunicação. Regulamentadas pela Lei 9.612/1998, essas emissoras têm como missão transmitir em baixa potência, com alcance limitado, voltadas exclusivamente para atender interesses culturais, educativos e sociais de determinada comunidade. Diferente das rádios comerciais, elas não podem ter fins lucrativos e devem priorizar conteúdos locais, promovendo cidadania e fortalecendo a cultura popular.
Em diversas cidades pequenas, essas rádios funcionaram como escolas de comunicação popular, formando locutores, comunicadores sociais e fortalecendo o senso de pertencimento das comunidades.
Ipanguaçu e a Criação de sua Rádio Comunitária
Ipanguaçu, conhecido por suas riquezas naturais, áreas agrícolas e comunidades rurais, também encontrou na rádio comunitária uma forma de unir seus habitantes em torno da informação local.
A rádio surgiu legalizada, cumprindo todos os trâmites burocráticos junto ao Ministério das Comunicações. Foi um marco para a cidade, que até então dependia de rádios de municípios vizinhos para se informar.
A chegada da Rádio FM Comunitária de Ipanguaçu significou:
Informação rápida sobre as demandas locais;
Divulgação de eventos culturais e religiosos;
Valorização da música regional e dos artistas da terra;
Um espaço para debates e opiniões da população;
Fortalecimento da identidade comunitária.
O Papel de Mário Silvério da Costa
Nenhuma história da rádio comunitária de Ipanguaçu pode ser contada sem mencionar Mário Silvério da Costa, representante de Arapuá e figura central na trajetória da emissora.
Mário Silvério foi um homem visionário, engajado com sua comunidade e apaixonado pela ideia de dar voz ao povo. Ele dedicou tempo, esforço e até recursos pessoais para manter viva a rádio.
Sob sua liderança, a emissora:
Manteve programações educativas voltadas para estudantes e agricultores;
Criou espaços de participação popular, onde moradores ligavam para compartilhar opiniões;
Apoiou campanhas de saúde, educação e cidadania;
Divulgou tradições culturais, festas religiosas e eventos locais;
Incentivou a música regional, dando espaço para artistas do município.
Mais do que um gestor, Mário era visto como um guardião da comunicação popular em Ipanguaçu. Sua dedicação fez com que a rádio se tornasse parte essencial do cotidiano dos moradores, especialmente nas zonas rurais.
A Rádio como Espaço de Resistência Cultural
Em uma época em que as grandes emissoras ditavam os rumos da comunicação, rádios comunitárias como a de Ipanguaçu eram verdadeiros bastiões de resistência cultural.
Enquanto rádios comerciais privilegiavam músicas nacionais e internacionais de grande circulação, a rádio comunitária valorizava a cultura do Vale do Açu, divulgava o trabalho de sanfoneiros, violeiros e bandas locais.
Além disso, oferecia:
Noticiários comunitários sobre obras, estradas e demandas locais;
Programas religiosos de diferentes denominações, fortalecendo a fé da população;
Aulas radiofônicas, especialmente importantes para agricultores que precisavam de informações técnicas.
A Morte de Mário Silvério e a Mudança de Rumos
A morte de Mário Silvério da Costa foi um marco doloroso não apenas para Arapuá, mas para todo Ipanguaçu. Sua ausência deixou a rádio sem seu maior incentivador, sem a figura que garantia continuidade e proteção ao projeto.
Com sua partida, a emissora entrou em um período de instabilidade. A gestão da rádio passou a enfrentar desafios burocráticos, falta de apoio institucional e dificuldades financeiras.
O Fechamento da Rádio na Gestão Valderedo (PSDB)
Durante a gestão de Valderedo Bertoldo (PSDB), a rádio comunitária de Ipanguaçu acabou sendo fechada.
Os motivos para o encerramento da emissora envolvem um conjunto de fatores:
1. Falta de investimento: não houve incentivo ou políticas de apoio à rádio comunitária.
2. Questões burocráticas: a manutenção de licenças e autorizações requer dedicação administrativa, o que se perdeu após a morte de Mário.
3. Interesses políticos: rádios comunitárias muitas vezes incomodam gestores locais, pois dão voz à oposição e ao povo.
4. Falta de mobilização comunitária: sem liderança forte, a população acabou perdendo o espaço de comunicação.
Assim, Ipanguaçu viu-se novamente sem uma rádio própria, dependendo de veículos externos e redes sociais para a circulação de informações.
Impactos do Fechamento da Rádio
O fechamento da rádio comunitária teve impactos profundos para a sociedade local:
Perda de identidade cultural: artistas locais perderam um espaço fundamental de divulgação.
Menos informação local: notícias do município deixaram de ser veiculadas de forma comunitária.
Enfraquecimento da cidadania: a população perdeu um espaço democrático de expressão.
Memória apagada: um legado construído com tanto esforço foi colocado em silêncio.
A Importância de Resgatar a Memória da Rádio
Mesmo fechada, a história da Rádio FM Comunitária de Ipanguaçu precisa ser lembrada. Resgatar essa memória é uma forma de valorizar o trabalho de Mário Silvério da Costa e reconhecer a importância que a comunicação popular tem para o fortalecimento da democracia local.
Em tempos de fake news e excesso de informações digitais, rádios comunitárias ainda são instrumentos poderosos de comunicação direta com a população, principalmente em comunidades rurais.
Caminhos para o Futuro
O fechamento da rádio não precisa ser o ponto final dessa história. Existem caminhos para resgatar e reinventar esse projeto:
Reativação legal da emissora, com novos líderes comunitários.
Criação de uma rádio digital comunitária, transmitindo pela internet e alcançando moradores pelo celular.
Parcerias com escolas, igrejas e associações locais para garantir conteúdo educativo e cultural.
Formação de jovens comunicadores, inspirados no legado de Mário Silvério.
Conclusão
A Rádio FM Comunitária de Ipanguaçu foi muito mais do que uma emissora de rádio. Foi um espaço de encontro, cidadania, cultura e resistência. Seu auge aconteceu graças à dedicação de Mário Silvério da Costa, que acreditou no poder da comunicação popular.
Com sua morte e a falta de apoio da gestão municipal de Valderedo (PSDB), a emissora acabou sendo encerrada, deixando uma lacuna que até hoje é sentida.
Resgatar essa história não é apenas preservar a memória de uma rádio, mas reconhecer a importância de dar voz ao povo, de fortalecer a democracia e de valorizar a cultura local. Ipanguaçu merece voltar a ter sua própria emissora comunitária, seja no rádio tradicional ou nos meios digitais.
